Cubana com I-220A, presa na Califórnia: "Não tenho delitos, estar trancada aqui é horrível."

A jovem de 26 anos havia acabado de apresentar seu pedido de asilo e foi detida no dia 10 de março quando compareceu à sua appointment com o ICE em Miramar (Broward). Desde a prisão para a qual foi transferida, ela afirma à CiberCuba que não tinha intenção de retornar a Cuba, que apenas queria recomeçar e que seus filhos nascessem em liberdade


A jovem cubana Beatriz Monteagudo Castillo (28 de agosto de 1999) explicou em declarações à CiberCuba que estar "trancada" no Otay Center, em San Diego, Califórnia, é "horrível", uma "situação muito dura", considerando que ela não cometeu delitos e que ao entrar pela fronteira do México lhe foi dado um I-220A. Além disso, ela já tem em andamento sua solicitação de asilo nos Estados Unidos.

Monteagudo foi detida no dia 10 de março após comparecer à sua consulta no escritório de Imigração (ICE) em Miramar (Broward). No dia 15 de março, foi transferida para uma prisão comum, donde compartilha espaço com mulheres que cometeram todo tipo de delitos menores.

"Estando trancada aqui é inevitável que se pense em tantas coisas. Desde o primeiro momento em que você entrou neste país até a situação em que se encontra atualmente. É terrível porque, em momentos, você tem esperanças, tem fé de que vai sair, de que vai conseguir pagar um advogado, que vai poder resolver seu caso. Eu tenho meu asilo político e sei que vou lutar por ele e que vou vencer, mas chega um momento em que você começa a ouvir histórias de todas; sente-se no fundo do poço, fica deprimido, porque não sabe aonde a situação vai chegar... Muitas te encorajam e dizem que há bons juízes, enquanto outras dizem que os juízes não se importam com você, que quando chegam ao tribunal, já vêm com a decisão tomada. É horrível a tensão que se sente aqui dentro; além da preocupação de não adoecer porque não se alimenta bem, não se dorme bem; além da tensão porque você não sabe o que vai acontecer. A verdade é que é uma situação muito difícil", disse.

A jovem, uma das primeiras cubanas detidas com I-220A, explica que ela saiu de Cuba formada como técnica em Ciências Médicas e entrou pelos Estados Unidos pela fronteira com a intenção de trabalhar e estudar. "Queria ter meu próprio aluguel, fazer minha própria vida, uma vida normal; obter minha residência para ter um status migratório no país; não para ir a Cuba, em nenhum momento pensei em voltar a Cuba desde o momento em que cheguei a este país. Eu queria fazer minha vida como uma pessoa de bem. Eu não tenho antecedentes; não cometi crimes, não fiz nada. Eu apenas me concentrei em fazer as coisas certas neste país desde o momento em que cheguei", acrescentou.

Neste momento, todas as cubanas com I-220A, detidas pelo ICE e que se encontram no Otay Center, em San Diego, estão mergulhadas na incerteza porque os advogados não lhes dão respostas e não alteram as Cortes para a Califórnia. "Não sabemos o que vai acontecer", disse.

Além disso, explica que os advogados que apresentaram a moção ao suposto deportador, que é um agente do ICE, não recebem resposta. "Supostamente a fiança deve ser apresentada ao juiz, mas como o tribunal não nos enviou para cá, o ICE nos informou que os juízes de Miami já não têm jurisdição sobre as cubanas com I-220A."

Questionada pela CiberCuba sobre quais são seus planos para o futuro, Beatriz Monteagudo respondeu que tem "os mesmos propósitos" desde que chegou aos Estados Unidos: trabalhar, estudar, fazer sua vida. "Quero construir meu futuro neste país; minha família, meus filhos. Eu saí do meu país com o objetivo de chegar aqui e começar minha vida do zero. Não queria criar meus filhos sob uma ditadura. Queria que meus filhos nascessem em um país livre", concluiu.

Após a detenção de Beatriz Monteagudo, um amigo da jovem, que este ano completa 26 anos, lançou uma campanha em GoFundme.com para arrecadar fundos que ajudem a pagar um advogado. Até o momento, conseguiram reunir apenas 3.600 dólares. A mãe de Beatriz pediu ajuda a todos os cubanos, especialmente aos espirituanos residentes nos Estados Unidos, uma vez que a família é de Sancti Spíritus.

Em princípio, o advogado especialista em Imigração Willy Allen afirmou em uma entrevista com CiberCuba, que os cubanos com I-220A não seriam nem detidos nem deportados. Mas houve detenções. A congressista republicana María Elvira Salazar intercedeu e conversou com altos funcionários do ICE para que parassem as detenções de cubanos com I-220A e, após sua mediação, não houve mais registros de prisões.

Ela prometeu dar status legal aos cubanos com I-220A. A sua ideia é conceder um parole para que possam se beneficiar da Lei de Ajuste Cubano. Willy Allen acredita que não é necessário, como quer a congressista, apresentar uma proposta de lei no Congresso. Na sua opinião, seria suficiente que o Departamento de Segurança Nacional assinasse uma ordem administrativa que reconhecesse que os cubanos com I-220A podem se candidatar à Lei de Ajuste porque foram entrevistados e aceitos nos Estados Unidos, os dois requisitos que devem ser cumpridos para se candidatar ao Ajuste.

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Tania Costa

(Havana, 1973) vive na Espanha. Ela dirigiu o jornal espanhol El Faro de Melilla e FaroTV Melilla. Foi chefe da edição de Murcia do 20 minutos e assessora de Comunicação da Vice-Presidência do Governo de Múrcia (Espanha).

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