“Trabalhar é um delito em Cuba”: Jovem denuncia multa e assédio policial por ganhar a vida legalmente

Luis Mario Jerez, residente em Bayamo, denunciou nas redes sociais que recebeu uma multa de 16.000 pesos por trabalhar legalmente, apesar de ter seus documentos em ordem e estar em dia com os impostos.

Cuentapropista em Cuba (Imagem de referência)Foto © CiberCuba

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Luis Mario Jerez Estrada, residente na cidade de Bayamo, província de Granma, denunciou nesta terça-feira nas redes sociais que foi multado em 16.000 pesos por exercer seu trabalho, apesar de ter, segundo afirma, os documentos em ordem e pagar impostos ao Estado cubano.

“Cosas da vida, que pena viver em um país onde trabalhar é um crime”, escreveu em seu perfil no Facebook, onde relatou o incidente com oficiais da Polícia Nacional Revolucionária (PNR), que o teriam acusado de estar “ilegal”, apesar de apresentar sua documentação.

Captura Facebook / Luis Mario Jerez Estrada

Jerez se referiu ao assédio policial que os trabalhadores autônomos enfrentam, afirmando que em Cuba “é mais vantajoso sair à noite, assaltar e matar alguém para roubar um telefone ou algo de valor, do que trabalhar honestamente”.

O jovem alertou que poderia enfrentar represálias por tornar pública a situação, como a apreensão de seu celular ou outras sanções, mas mesmo assim decidiu denunciar o que ocorreu.

“Isso não me importa, o que não posso é deixar passar esse incidente sem denunciá-lo”, expressou.

Seu testemunho reflete o crescente desconforto entre muitos cubanos que tentam sobreviver com atividades econômicas fora do sistema estatal, em um contexto de crise, inflação e escassas oportunidades formais de emprego.

Na seção de comentários, numerosas pessoas expressaram sua indignação diante do ocorrido, enquanto outras apontaram que esse tipo de situação é cada vez mais comum em Cuba.

Yordanis Perdomo Leyva expressou: “Essa é a dura realidade do nosso dia a dia, e assim todas as noites saem criticando outros países pelos seus problemas, quando o maior problema está aqui, entre nós mesmos”.

“Depois o povo fala e os comunistas dizem que estão contra o governo e não percebem que é o governo que está contra o povo”, sublinhou Adrián Zamora.

Arletis Mojena ressaltou: “Essa é a dura e triste realidade que se vive em Cuba, como diz a canção ‘Cuba precisa de uma mudança e essa mudança é agora’.”

Nos últimos anos, as denúncias nas redes sociais sobre injustiças em Cuba se intensificaram, muitas delas protagonizadas por cidadãos comuns que buscam visibilizar situações críticas.

Em 2024, uma mulher residente em Las Tunas denunciou a suposta detenção de seu marido por publicar no Facebook uma reclamação sobre os apagões.

Segundo seu depoimento, após publicar a mensagem, agentes da Segurança do Estado tentaram coagi-lo a retirá-la, e horas depois a polícia se apresentou em sua residência com um mandado de busca e prendeu o jovem.

Esse mesmo ano, uma cubana identificada como Sairis Castillo, publicou um vídeo em que refutava a narrativa oficial que minimiza a crise na ilha.

En sua mensagem, expressou que os apagões, a escassez de alimentos e medicamentos e a falta de liberdades políticas são razões mais do que suficientes para que o povo proteste. Seu testemunho ganhou visibilidade pela força emocional com que denunciou a precariedade cotidiana dos cubanos e a sensação generalizada de viver sob uma constante sobrevivência.

O caso de Roelbis, um menino de Camagüey que vendia tamales para ajudar sua avó, gerou em setembro passado uma onda de solidariedade após ser divulgado nas redes sociais pelo jornalista independente José Luis Tan Estrada.

O menino, conhecido como "Titingo", conseguiu chamar a atenção de numerosos usuários que organizaram doações para evitar que ele tivesse que continuar trabalhando nas ruas.

Em outubro, a indignação foi reacendida após o apreensão de caminhões com alimentos pertencentes a camponeses em Santiago de Cuba. A denúncia foi feita pelo jornalista Yosmany Mayeta Labrada em seu perfil no Facebook.

As publicações geraram um intenso debate sobre a falta de apoio institucional ao campo cubano, e muitos usuários nos comentários criticaram a atuação policial, ressaltando que, enquanto o povo sofre com a fome, as autoridades dificultam o acesso a alimentos.

Perguntas frequentes sobre o assédio policial e a repressão em Cuba

Por que Luis Mario Jerez Estrada foi multado em Cuba?

Luis Mario Jerez Estrada foi multado em 16 mil pesos pelas autoridades cubanas, apesar de ter a documentação em dia para exercer seu trabalho de forma legal. A multa reflete o assédio policial que enfrentam os trabalhadores autônomos em Cuba, onde o regime frequentemente persegue aqueles que tentam ganhar a vida fora do sistema estatal.

Como o assédio policial afeta os trabalhadores por conta própria em Cuba?

O assédio policial em Cuba afeta gravemente os trabalhadores autônomos, que sofrem multas excessivas e apreensões, dificultando sua capacidade de gerar rendimentos e sustentar suas famílias. Essas ações repressivas impedem o desenvolvimento econômico dos autônomos e refletem a falta de apoio do governo ao empreendedorismo privado em um contexto de crise econômica.

Qual é a relevância das redes sociais nas denúncias de abusos em Cuba?

As redes sociais desempenham um papel crucial na denúncia de abusos e assédio policial em Cuba. Plataformas como o Facebook permitem aos cidadãos visibilizar suas experiências e gerar debates sobre as injustiças que enfrentam, aumentando a pressão sobre o governo para que tome medidas a respeito.

Como a situação econômica de Cuba se relaciona com o assédio aos cuentapropistas?

A crise econômica em Cuba, caracterizada por alta inflação e poucas oportunidades de emprego formal, obriga muitos cubanos a buscar alternativas econômicas fora do sistema estatal. No entanto, o assédio e as multas impostas aos cuentapropistas dificultam sua subsistência, agravando ainda mais a situação econômica das famílias e limitando as possibilidades de desenvolvimento pessoal e profissional na ilha.

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Equipe Editorial da CiberCuba

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