Por que o sol brilha à noite em Los Naranjos?

Depois de 66 anos de "revolução", mais de 300 famílias em comunidades do Alto Oriente cubano mal começam a receber eletricidade. Como viveram durante essas décadas? E por que é apresentado como um feito algo que deveria ter sido resolvido há meio século?


Em meio à pior crise energética da história recente de Cuba, o regime voltou a se vestir de redentor ao anunciar a instalação de painéis solares em comunidades montanhosas de Guantánamo, como Los Naranjos, a quase 800 metros acima do nível do mar.

O que Granma, órgão oficial do Partido Comunista de Cuba (PCC), apresentou como uma grande conquista técnica e social, resultou na verdade em um retrato do fracasso acumulado do “projeto revolucionário”.

Em um artigo intitulado “Onde o sol brilha à noite”, o jornalista oficialista José Llamos Camejo se deliciou com o testemunho de camponeses que agradeceram ao astro-rei por acender agora lâmpadas e televisores, como se a eletricidade fosse um luxo concedido pela graça estatal, e não um direito cidadão que deveria ter sido garantido há décadas.

A pergunta é inevitável: não havia eletricidade nessas comunidades antes da recente instalação? De acordo com os próprios depoimentos coletados por Llamos Camejo, não. Alguns aparelhos solares quebrados e sem baterias eram tudo o que existia até pouco tempo atrás. Hoje, após a chegada de "módulos solares", a vida muda. Mas, por que demorou tanto?

É impossível não notar a paradoxo histórico: em artigos anteriores da Granma, os habitantes de Los Naranjos foram apresentados como devotos de Fidel Castro e receptores de promessas cumpridas pela chamada "revolução" desde 1959.

No entanto, o órgão do PCC confessou neste domingo, sem vergonha, que nunca tiveram acesso estável à eletricidade. Que tipo de “transformação” é essa que dura mais de seis décadas sem garantir o mais básico?

A ação atual se inscreve dentro de uma campanha governamental para insistir na mudança da matriz energética como uma virtude revolucionária, sem mencionar o contexto que a obriga: a incapacidade do Sistema Elétrico Nacional de abastecer a população, marcada por constantes apagões e um parque termelétrico colapsado.

Hablar de painéis solares em 2025 parece mais uma propaganda de subsistência do que uma política energética coerente. Segundo números do próprio Granma, serão instalados 625 módulos este ano em Guantánamo, um número que mal arranha a superfície das necessidades reais do país.

A etiqueta de energias renováveis nos meios oficialistas tornou-se um bálsamo narrativo, uma forma de disfarçar a ineptidão e incapacidade governamental, assim como o deterioramento estrutural do sistema elétrico nacional com retórica de sustentabilidade.

A instalação de painéis solares em comunidades como Los Naranjos não é uma demonstração de avanço, mas o sintoma mais evidente de uma dívida histórica que o regime tenta saldar com gestos tardios e discursos reciclados. O que deveria ser um ponto de partida para uma vida digna, transforma-se em bandeira de propaganda.

E a pergunta continua ressoando: como essas comunidades viveram durante seis décadas sem eletricidade? E pior ainda: como pôde ser apresentado como uma vitória aquilo que revela um fracasso?

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Equipe Editorial da CiberCuba

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