Uma ex-jueza cubana que, há menos de um ano e meio, foi homenageada na televisão nacional por sua "lealdade à revolução" agora enfrenta um processo de expulsão nos Estados Unidos, após ter ingressado no país mentindo sobre seu passado político e institucional.
Juana Orquídea Acanda Rodríguez, de 62 anos, foi detida no dia 20 de março por agentes da Oficina de Alfândega e Proteção Fronteiriça (CBP) no Aeroporto Internacional de Miami.
O que gerou maior indignação em setores do exílio cubano foi que, apenas alguns meses antes de sua chegada aos Estados Unidos, ela foi condecorada na Ilha por sua fidelidade ao sistema revolucionário.
Em dezembro de 2023, durante o ato pelo 50º aniversário do Sistema de Tribunais Populares, recebeu a Ordem do Mérito Judicial, uma das distinções mais altas do setor.
O momento foi transmitido pelo telecentro TV Yumurí, onde Acanda Rodríguez apareceu visivelmente emocionada, com um ramo de flores na mão, agradecendo publicamente à revolução.
"É indescritível, é o reconhecimento ao trabalho de toda a vida, ao que fiz, realizando meus sonhos, e é o melhor exemplo do que é a obra da revolução", declarou então diante das câmeras.
A ex-funcionária chegou ao país com um visto de imigrante obtido por meio de reivindicação familiar, mas não revelou que havia sido militante ativa do Partido Comunista de Cuba (PCC) nem que trabalhou por mais de três décadas como juíza em Matanzas, onde era uma figura proeminente do regime.
Segundo relatos do jornalista Mario J. Pentón e um comunicado da CBP, Acanda Rodríguez forneceu "informação falsa" durante seu processo migratório para se beneficiar da entrada no país. A agência indicou que a mulher confessou ter ocultado dados cruciais sobre seus vínculos ideológicos e profissionais com o aparato judicial do regime comunista.
Esse contraste entre sua exaltação pública em Cuba e sua tentativa de se estabelecer nos Estados Unidos como uma imigrante comum acendeu o debate sobre a eficácia dos controles migratórios e a chegada de indivíduos vinculados ao aparato repressivo do regime.
A ex-juíza enfrenta agora acusações federais por fraude migratória, deturpação e apresentação de documentação falsa, nos termos do Título 18 do Código dos Estados Unidos. Além disso, foi considerada inadmissível de acordo com a seção 212(a) da Lei de Imigração, o que a coloca em processo de deportação e possível acusação judicial.
O caso de Acanda Rodríguez se soma a uma série crescente de funcionários do regime cubano que conseguiram entrar nos Estados Unidos ocultando suas credenciais e vínculos políticos, seja por meio de programas de reunificação familiar, vistos humanitários ou parole.
Este fenômeno provocou uma forte rejeição na comunidade cubano-americana, especialmente no sul da Flórida, onde organizações do exílio e vários congressistas têm exigido medidas mais rigorosas para evitar que pessoas com histórico de colaboração com o regime comunista encontrem refuge no país que, por décadas, tem sido símbolo de liberdade para milhares de cubanos perseguidos.
Desde Washington, o Departamento de Estado reiterou que a emissão de um visto não garante o acesso definitivo ao país e que todos os beneficiários estão sujeitos a uma revisão contínua mesmo após sua chegada.
"Estamos comprometidos em proteger nossas fronteiras e garantir que aqueles que entram nos Estados Unidos o façam de maneira transparente e sem vínculos com regimes autoritários", declarou um porta-voz.
Enquanto isso, Juana Orquídea Acanda Rodríguez permanece sob custódia federal, aguardando as decisões judiciais que poderiam trazê-la de volta ao país cuja obra revolucionária ela não hesitou em elogiar... até que tentou deixá-la para trás.
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