“Não é solidário nem altruísta”: doutora cubana revela exploração e abusos nas missões médicas

"Há coação, há tortura psicológica; é muito horrível e é muito abusivo o que se faz nessas missões."


A doutora cubana Daycee Zamora, graduada em 2015 pela Universidade de Ciências Médicas de Havana e especialista em Medicina Geral Integrada, denunciou publicamente os abusos cometidos pelo regime cubano durante sua participação no programa Mais Médicos no Brasil, que qualificou como um sistema de exploração disfarçado de cooperação.

Em um vídeo divulgado nas redes sociais, Zamora relatou: “Meu nome é Daycee Zamora, sou médica formada na Universidade de Ciências Médicas de Havana, no ano de 2015, especialista em Medicina Geral Integral. Em 2017, fui trabalhar no Brasil no conhecido programa Mais Médicos. Quero esclarecer e denunciar que tal programa não é solidário nem altruísta, pois realmente os médicos que saímos para trabalhar nesse tipo de missões o fazemos porque é impossível viver como médicos em Cuba.”

Criticou abertamente o papel do Partido Comunista na organização e controle dessas brigadas: “O Partido Comunista de Cuba o que faz com essas missões é abusar dos médicos que vão para lá, abusar de nós, coagir-nos, escravizar-nos, roubar-nos, porque nos roubam mais de 80% do salário, roubar-nos, explorar-nos, e colocar uma máscara de solidariedade, de ajuda altruísta, de ajuda ao próximo, que não existe”. Acrescentou que o que viveu foi “muito abuso, é uma pretensão de doutrinação, há descontrole de todos os tipos, há coação, há tortura psicológica, é muito horrível e é muito abusivo o que se faz nessas missões, desde tirar o seu passaporte até te pagar 20 por cento do que realmente Cuba cobra por essas missões, até te chantagear”.

Zamora denunciou que o regime pune com exílio forçado os médicos que decidem não retornar à ilha após o término da missão: “Como fizeram comigo no meu caso, com o fato de que, se a missão termina e você opta por ficar no país onde está trabalhando, não pode entrar na sua ilha, no seu país, durante 8 anos e somos obrigados ao exílio forçado”. Rejeitou de forma categórica a narrativa oficial que apresenta essas missões como humanitárias: “É mentira, não há tal altruísmo, não há tal solidariedade e o que há é muita ingerência, muita política cubana envolvida em cada país para o qual 'vende' seu altruísmo e muito abuso por parte das autoridades do Partido Comunista Cubano”.

O vídeo com as declarações da doutora foi replicado em diferentes plataformas. No Facebook, a página La Nueva Cuba compartilhou o conteúdo destacando que Zamora resume sua experiência “como ex-escrava na missão médica do Brasil”.

No Twitter, o usuário @doclibreuy escreveu que “toda ‘ajuda solidária e desinteressada’ que se oferece de #Cuba é um roubo à mão armada, abuso, exploração e escravidão dos médicos”, acrescentando que a ditadura cubana “lucrava há décadas com os médicos”.

Também no Facebook, a organização Cubanos Libres en Uruguay divulgou o vídeo indicando que Zamora é ativista e membro do grupo, e que seu testemunho mostra “as violações do regime cubano e o tráfico de médicos escravizados”.

A experiência denunciada por Daycee Zamora está inserida em um contexto de acusações sustentadas por organizações internacionais, governos e outros profissionais cubanos sobre o funcionamento das missões médicas do regime.

Nos últimos dias, o governo dos Estados Unidos denunciou que o regime cubano obtém mais de 4,900 milhões de dólares anuais por essas missões, enquanto submete seus trabalhadores a condições de exploração laboral. O Departamento de Estado e o Parlamento Europeu, por sua vez, qualificaram essas práticas como formas de trabalho forçado e escravidão moderna.

Um recente relatório do projeto Arquivo Cuba revelou que, em países como Bahamas, o regime retém entre 83,9 % e 91,6 % do salário pago por cada colaborador, deixando o profissional cubano com apenas entre 990 e 1.200 dólares mensais. Os contratos incluem restrições como a proibição de aceitar outros empregos ou de falar sobre o conteúdo do acordo, e exigem participação em atos políticos.

O próprio ministro da Saúde Pública de Cuba, José Ángel Portal Miranda, admitiu em meados deste mês de abril que as brigadas retiveram durante anos os passaportes dos médicos como “medida preventiva”, o que foi confirmado em uma transmissão oficial.

No caso do Brasil, após a saída do regime do programa Mais Médicos em 2018, numerosos profissionais cubanos decidiram permanecer no país, onde enfrentaram dificuldades para revalidar seus títulos e voltar a exercer como médicos. O doutor Juan Delgado, que participou do programa em 2013, tentou sem sucesso validar seu diploma apesar de sua experiência de 30 anos, e durante longos períodos foi obrigado a sobreviver com empregos ocasionais como a venda de produtos naturais.

Também a doutora Mariela Ambruster, que trabalhou entre 2013 e 2016 no nordeste do Brasil, não conseguiu a revalidação do seu título após várias tentativas. Atualmente vive cuidando de idosos e perdeu o original do seu diploma, o que agrava sua situação legal e profissional.

Perguntas frequentes sobre as missões médicas cubanas

O que a doutora Daycee Zamora denunciou sobre as missões médicas cubanas?

A doutora Daycee Zamora denunciou que as missões médicas cubanas são um sistema de exploração disfarçado de cooperação solidária. Segundo seu testemunho, os médicos cubanos enfrentam abusos, doutrinação e coação, além de terem que entregar mais de 80% de seu salário ao regime cubano.

Qual é o impacto econômico das missões médicas para o regime cubano?

O regime cubano obtém mais de 4.900 milhões de dólares anuais através das missões médicas. Essa receita provém dos pagamentos que os países receptores fazem pelos serviços dos médicos cubanos, dos quais o regime retém entre 75% e 90%, segundo diferentes relatórios e denúncias.

Como afeta os médicos cubanos a retenção de seus passaportes em missões internacionais?

A retenção de passaportes impede que os médicos cubanos se movimentem livremente e os submete ao controle das autoridades das missões. Esta prática tem sido utilizada para evitar que os médicos abandonem as missões e tem sido qualificada como coercitiva por organismos internacionais. Embora o regime cubano tenha admitido essa prática, garantiu que está em processo de eliminação.

Quais medidas foram adotadas por organismos internacionais em resposta às denúncias sobre as missões médicas cubanas?

O Parlamento Europeu e o governo dos Estados Unidos denunciaram as missões médicas cubanas como formas de escravidão moderna e trabalho forçado. Essas entidades convocaram a comunidade internacional a adotar medidas para garantir os direitos trabalhistas dos médicos cubanos e a sancionar os países que se beneficiam dessas condições de exploração.

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Equipe Editorial da CiberCuba

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