A organização não governamental Cubalex alertou sobre um padrão crescente de repressão em Cuba que não apenas afeta os opositores políticos, mas que também se estende deliberadamente às suas famílias como forma de punição e intimidação.
A partir dos casos recentes de José Daniel Ferrer e Félix Navarro, a organização documentou violações sistemáticas ao direito à vida privada, à integridade familiar e à liberdade religiosa.
Hostigamento familiar: do lar aos filhos
No passado dia 29 de abril, agentes da Segurança do Estado irromperam na residência de José Daniel Ferrer em Santiago de Cuba e, após detê-lo arbitrariamente, expulsaram sua esposa, Nelva Ortega, e seu filho mais novo do lar. Ambos foram trasladados para uma suposta "casa de proteção" sem condições mínimas, no que a Cubalex considera um ato de assédio encoberto sob disfarces legais, com ameaças implícitas de perda da custódia da criança.
Este padrão —adverte a Cubalex— utiliza o novo Código das Famílias como ferramenta de coerção, ao transformar os menores em instrumentos de pressão política contra seus pais.
Enquanto se alegam razões de proteção, o Estado instrumentaliza as crianças em atos de repúdio e exibições ideológicas, como ocorreu com estudantes obrigados a gritar palavras de ordem em frente à casa de Ferrer após sua prisão.
O caso Navarro: repressão emocional e vigilância médica
El mesmo dia, Félix Navarro foi detido em Matanzas em uma data cuidadosamente escolhida para impedir uma visita carcerária de sua filha, também presa política. Nas semanas anteriores, ele havia sido detido sete domingos consecutivos por tentar assistir à missa, evidenciando um padrão de perseguição religiosa.
Nesse sentido, a Cubalex denuncia o uso arbitrário de câmaras de vigilância por parte de agentes de Segurança, assim como a presença de pessoal médico não solicitado durante as detenções, supostamente para “medir a pressão”.
Esta prática, longe de ter fins humanitários, reforça o controle psicológico e humilha o detido, em um contexto onde os recursos médicos escasseiam para o restante da população.
Impacto nos mais vulneráveis
A esposa de Navarro, Sonia Álvarez, também sofreu os efeitos da punição estatal. Negaram-lhe em seis ocasiões consecutivas o direito de visitar sua filha, Saylí Navarro, na prisão, apenas por vestir-se de branco, em alusão ao seu ativismo com as Damas de Branco.
Vale a pena lembrar, além disso, que Zoila Esther Chávez, a mãe do prisioneiro político José Gabriel Barrenechea, faleceu no domingo, 4 de maio sem poder se despedir do seu filho.
A mulher de 84 anos havia perdido a fala e apresentava uma respiração fraca. Seu corpo não resistiu. E, apesar de seus apelos, a ditadura não permitiu que ela voltasse a ver seu filho ainda vivo.
Cubalex enfatiza que esses atos de retaliação emocional têm como objetivo fragilizar oslaços familiares como uma ferramenta de dissuasão política. A família deixa de ser um espaço protegido e se torna um alvo direto da violência institucional.
Violações sistemáticas de direitos humanos
Estas ações violam princípios fundamentais consagrados em instrumentos internacionais como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e a Declaração Universal de Direitos Humanos, que proíbem a ingerência arbitrária na vida familiar e garantem o direito à liberdade de culto e à proteção contra a intimidação estatal.
Cubalex alerta que a comunidade internacional não pode continuar ignorando esse padrão de repressão estrutural, onde a violência já não se limita aos ativistas, mas é direcionada contra seus núcleos afetivos mais próximos: filhos, esposas e pais, numa tentativa de quebrar sua resistência por meio do dano emocional.
Perguntas frequentes sobre a repressão política e o assédio em Cuba
Em que consiste a repressão familiar em Cuba segundo a Cubalex?
A Cubalex alertou sobre um padrão de repressão em Cuba que se estende às famílias dos opositores políticos, como uma forma de punição e intimidação. A organização documenta violações ao direito à vida privada e à integridade familiar, utilizando o novo Código das Famílias como ferramenta de coerção, e transformando os menores em peças de pressão política contra seus progenitores.
Como a repressão cubana afeta as crianças?
O Estado cubano instrumentaliza as crianças em atos de repúdio e desdobramentos ideológicos. Isso se evidencia no uso de escolares obrigados a gritar consignas em frente à residência de opositores como José Daniel Ferrer. A Cubalex destaca que essas ações violam os direitos da criança e são parte de um padrão de doutrinação sistemática nas escolas cubanas.
Que ações internacionais estão sendo tomadas contra a repressão em Cuba?
Dezenas de organizações internacionais exigiram a libertação imediata e incondicional dos prisioneiros políticos em Cuba, especialmente de opositores como José Daniel Ferrer e Félix Navarro. Também foi solicitado a governos democráticos e organizações multilaterais que condenem abertamente essas violações e exerçam pressão política e diplomática coordenada para pôr fim à repressão. Os Estados Unidos, por exemplo, repudiaram publicamente essas detenções e o tratamento recebido pelos ativistas pró-democracia.
Por que o assédio contra José Daniel Ferrer se intensifica?
José Daniel Ferrer tem sido alvo de um cerco repressivo crescente devido à sua atividade política e humanitária. Desde sua libertação, ele denunciou repetidamente o assédio e as ameaças que enfrenta por parte das autoridades cubanas, que buscam impedir seu trabalho solidário em Santiago de Cuba. O regime utiliza táticas intimidatórias como detenções arbitrárias, vigilância constante e atos de repúdio para isolá-lo e frear sua atividade oposicionista.
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