Leonardo Padura denuncia o medo dos cubanos nos EUA após a revogação do parole humanitário

"A chegada de Trump à Casa Branca foi um elemento catalisador de tudo o que está acontecendo. O que estamos vivendo parece uma distopia social."

Leonardo PaduraFoto © Facebook / Leonardo Padura

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O renomado escritor cubano Leonardo Padura se manifestou sobre a revogação definitiva do parole humanitário por parte da administração Trump e sobre as repercussões que isso tem para as pessoas que chegaram aos Estados Unidos sob esse programa.

Em entrevista à agência EFE, Padura denunciou o medo crescente entre milhares de imigrantes cubanos, muitos dos quais, lembrou, "venderam tudo para conseguir emigrar".

O prestigioso intelectual lamentou a situação que seus compatriotas enfrentam nos Estados Unidos, que chegaram com vistos concedidos pelo governo, e agora estes estão sendo revogados. "Alguns estão com muito medo lá", destacou.

Relatou uma anedota familiar que mostra como a atual política migratória americana fez com que muitos cubanos sentissem medo de viajar para a Ilha.

O escritor revelou que seu irmão, que vive em Miami e é cidadão americano, parou de ir a Cuba há pouco tempo porque tinha medo de não ser autorizado a voltar.

"Perdeu o aniversário da minha mãe por medo", lamentou.

Para Padura, a chegada de Trump à Casa Branca foi um elemento catalisador de tudo o que está acontecendo, embora "existam muitos outros processos difíceis" no mundo.

"O que estamos vivendo parece uma distopia social", ressaltou.

Cuba: crise, apagões e exílio

Sobre seu país, ele não ocultou seu pessimismo. "É uma crise tremenda em todos os sentidos", afirmou, referindo-se ao deterioro das condições materiais, aos apagões constantes e ao êxodo em massa.

"Não sei se sou capaz de compreender a situação atual em Cuba", confessou.

Padura criticou as últimas políticas dos Estados Unidos em relação a Cuba, tanto as de Joe Biden quanto as de Donald Trump.

Indicou que a decisão deste último de reincluir a Ilha na lista de países que não cooperam na luta antiterrorista, com sanções respectivas, impactou profundamente os cidadãos comuns.

Por último, lançou uma reflexão contundente sobre o estado atual do mundo, que compara a uma "distopia social", marcada por conflitos globais, vigilância digital extrema e um retrocesso das liberdades fundamentais, especialmente no mundo digital.

O papel do escritor e seu próximo romance

Durante sua estada na capital espanhola para participar da Feira do Livro, Padura falou sobre seu próximo romance.

"Morir en la arena", prevista para setembro, abordará precisamente o "destino complicado" de sua geração na Cuba contemporânea. Nela, um dos personagens opta pelo esquecimento como forma de sobreviver emocionalmente.

Em tempos de guerra, vigilância e êxodo, Padura reafirma seu compromisso como escritor: dizer o que outros não podem ou não se atrevem a dizer.

Embora o mundo pareça cada vez mais uma novela distópica, sua voz crítica continua a apelar à memória, à dignidade e à verdade.

Perguntas frequentes sobre a situação migratória dos cubanos nos Estados Unidos e a crise em Cuba

Por que foi revogado o parol humanitário para cubanos nos Estados Unidos?

A administração de Donald Trump revogou o parole humanitário como parte de uma política migratória mais restritiva, argumentando que o programa não conseguiu conter a migração irregular e sobrecarregou os recursos públicos. Essa decisão afeta mais de 530.000 pessoas de Cuba, Haiti, Nicarágua e Venezuela, deixando milhares em risco de deportação. O parole humanitário havia sido inicialmente promovido pela administração de Joe Biden para permitir a entrada temporária por razões humanitárias.

Como a revogação do parole humanitário afeta os cubanos nos Estados Unidos?

A revogação do parole humanitário gerou medo e incerteza entre os cubanos que podem ser deportados, especialmente aqueles que ainda não cumprem o requisito de um ano e um dia para se inscrever na Lei de Ajuste Cubano. Além disso, os afetados perdem sua autorização de trabalho e ficam indocumentados, o que os torna passíveis de deportação. Milhares de famílias que venderam tudo para emigrar agora enfrentam a possibilidade de retornar a uma Cuba mergulhada em crise econômica e energética.

Quais são as consequências da crise em Cuba segundo Leonardo Padura?

Leonardo Padura descreve a situação em Cuba como uma "crise tremenda", com um deterioração das condições materiais, apagões constantes e um êxodo maciço. O escritor aponta que a marginalidade, a violência, a pobreza e a desigualdade têm crescido consideravelmente. A falta de investimento e vontade por parte do governo levou ao deterioro de Havana, uma cidade que, segundo Padura, precisa de uma profunda transformação para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes.

Quais são as críticas de Leonardo Padura ao governo cubano e às políticas americanas?

Leonardo Padura tem sido crítico tanto com o governo cubano quanto com as políticas americanas em relação a Cuba. Padura lamenta a falta de vontade para preservar Havana e critica as medidas do regime que têm contribuído para o deterioro da cidade e a moral de seus habitantes. Ele também questiona as políticas de Joe Biden e Donald Trump em relação a Cuba, especialmente a inclusão da ilha na lista de países que não cooperam na luta antiterrorista, o que afetou negativamente os cidadãos comuns.

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