Inauguram a loja "Casalinda" no antigo Ten Cents de Havana, mas só aceita dólares

A nova loja Casalinda em Havana, localizada no antigo Ten Cents, vende apenas em dólares, excluindo muitos cubanos. Este modelo reforça o poder econômico de uma elite ligada ao conglomerado militar GAESA.

Casalinda (Imagem de Referência)Foto © Facebook/Casalinda Cuba Oficial

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O edifício que durante décadas abrigou o popular Ten Cents na interseção de Galiano e San Rafael, um dos espaços mais emblemáticos do comércio havano, foi reconvertido em “Casalinda”, uma nova loja que aceita apenas pagamentos em dólares.

A reinauguração da "Casalinda", uma loja que até pouco mais de um ano funcionava em moeda livremente conversível (MLC), realizada neste sábado, 12 de abril, se soma à expansão de um modelo econômico que aprofunda a exclusão de amplos setores da população cubana.

Captura de Facebook/Caslinda Cuba Oficial

Anunciada com entusiasmo nas redes sociais como um “novo shopping favorito”, Casalinda oferece mais de 10.000 itens, desde produtos para o lar até pequenos eletrodomésticos importados da Europa e da Ásia.

A loja foi inaugurada em um ambiente festivo, com música, telas digitais e promoções "exclusivas", embora não para todos. Apenas podem comprar aqueles que possuem contas bancárias em divisas, uma minoria privilegiada na ilha.

Según reportou o meio independente 14ymedio, minutos antes das dez da manhã, hora anunciada para a abertura, começou a se formar uma pequena fila de clientes sob o olhar atento de várias tropas de prevenção do Exército (boinas vermelhas).

Durante gerações, o Ten Cents foi símbolo de um comércio acessível, primeiro sob o modelo estadunidense antes de 1959, e depois como parte do sistema de lojas estatais socialistas. Seu transformação em uma loja elitista em divisas marca uma virada radical que não apenas ressignifica o espaço físico, mas também a memória coletiva do lugar.

No entanto, em julho de 2019, foram relatadas condições higiênicas deploráveis no local, com a presença de ratos e baratas na doceria do estabelecimento. Imagens capturadas por clientes mostravam os roedores circulando pelo local, evidenciando uma situação de abandono e falta de manutenção que afetava a saúde pública e a dignidade do espaço.

“O antigo Trasval de Galiano agora convertido na loja USD Casalinda. Com uma ampla tela. Assim podem ver os produtos que têm”, comentou um usuário nas redes sociais, referindo-se também à breve passagem do imóvel pela ferragem Trasval, outra marca associada ao cotidiano dos cubanos.

Captura de Facebook/Yasmari Morales

Hoje, onde antes muitos podiam comprar com seus modestos salários em pesos cubanos, ergue-se uma vitrine à qual só têm acesso aqueles que recebem remessas, recebem em divisas ou têm conexões com o mercado informal do dólar.

Casalinda não é apenas uma loja qualquer. Segundo revelou 14ymedio em seu relatório, por trás do projeto está Bartolomeo “Beto” Savina Tito, um empresário italiano com mais de três décadas de negócios em Cuba, muitos deles em parceria com o conglomerado militar GAESA.

Captura do Facebook/14ymedio

Através de sua firma Italsav e em parceria com as Tiendas Caribe, controladas pelas Forças Armadas, Beto estaria por trás da abertura de uma nova rede de supermercados de varejo em dólares que começará com esta loja em Centro Habana.

“Beto agora, através de um convênio com Tiendas Caribe de GAESA, abrirá uma série de supermercados em dólares em toda a Cuba”, publicou o perfil no Facebook La Tijera, ressaltando que Casalinda também conta com uma plataforma de comércio eletrônico em operação na ilha.

Captura do Facebook/La Tijera

Este tipo de alianças entre capital estrangeiro e o aparato econômico militar cubano reforçam a concentração do poder econômico nas mãos de uma elite muito reduzida, à margem de qualquer controle institucional ou cidadão.

A inauguração foi apresentada como uma celebração para "toda a família", mas o acesso à loja está condicionado por uma exclusão econômica.

Somente aqueles que possuem cartões financiados do exterior podem sequer considerar uma compra na Casalinda. Para a maioria dos cubanos, cujo moeda nacional perdeu dramaticamente poder aquisitivo em relação ao dólar, a loja não é mais do que uma exibição do que não podem ter.

Perguntas frequentes sobre a abertura de lojas em dólares em Cuba

O que é "Casalinda" e por que a sua abertura é controversa?

"Casalinda" é uma nova loja em Havana que aceita apenas pagamentos em dólares. Localizada no antigo edifício do Ten Cents, sua abertura gerou controvérsia porque permite o acesso apenas a uma minoria da população cubana que possui contas bancárias em divisas. Esta loja é parte de uma tendência mais ampla em direção à dolarização da economia cubana, o que exacerba a exclusão econômica e social no país.

Como a dolarização impacta a economia cubana?

A dolarização da economia cubana está aprofundando as desigualdades sociais. Embora o governo cubano defenda a abertura de lojas em dólares como uma medida necessária para captar divisas, o acesso a esses produtos está restrito àqueles que têm dólares, deixando a maioria da população, que recebe em pesos cubanos, sem poder acessar bens básicos. Isso gerou um mercado paralelo e uma crescente disparidade econômica.

Quem está por trás do projeto "Casalinda" e o que isso implica?

Bartolomeo “Beto” Savina Tito, um empresário italiano, está por trás do projeto "Casalinda". Através de sua empresa Italsav, e em parceria com as Tiendas Caribe, controladas pelas Forças Armadas cubanas, Beto está promovendo a abertura de uma rede de supermercados em dólares. Esse tipo de aliança entre capital estrangeiro e o aparato econômico militar cubano reforça o poder econômico nas mãos de uma elite, sem controle cidadão.

Como a população cubana reagiu à abertura de lojas em dólares?

A abertura de lojas em dólares gerou indignação entre a população cubana. Muitos cubanos criticarão que essas lojas, que estão bem abastecidas, só são acessíveis com divisas estrangeiras, o que é visto como uma zombaria para aqueles que não têm acesso a dólares. A prática de receber o troco em balas em vez de moedas é outro ponto de crítica, lembrando à população as práticas abusivas do passado.

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Equipe Editorial da CiberCuba

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