O desfile do Primeiro de Maio em Cuba desencadeou nesta quinta-feira uma chuva de memes inteligentes e sarcásticos nas redes sociais, onde os usuários não apenas zombaram de cenas chamativas do evento, mas também as conectaram com o drama econômico que o país enfrenta e compararam o povo a um rebanho de ovelhas obedientes.
Uno dos conteúdos mais compartilhados foi um vídeo publicado pelo usuário @kiwito_cubano no Instagram, onde é mostrado um enorme rebanho avançando em massa, em clara alusão ao desfile do Primeiro de Maio.
"Não sei como conseguem, asere...", disse o internauta que mostrou, com um gesto de desgosto, como o povo cubano comparece ao desfile do Primeiro de Maio apesar da aguda crise econômica, das quedas de energia, da falta de alimentos e do crescente desencanto social.
Nas últimas horas, também foi viralizado um vídeo protagonizado por uma dirigente que, ao convocar os trabalhadores a se juntar ao desfile do Primeiro de Maio, mostra de forma involuntária uma quantidade notória de peças dentárias ausentes.
A imagem, além do gesto espontâneo, gerou uma onda de reações pelo que representa: um retrato incômodo que contrasta com o discurso oficial que apresenta Cuba como uma potência médica.
O usuário Edmundo Dantés Junior compartilhou o trecho em Facebook com mordaz ironia: “Acho que vou sozinho porque a Cindy está nos esperando para nos dar um papo e já”.
O perfil Cardin.Ja, conhecido por satirizar o regime cubano nas redes sociais, também se juntou à onda de memes com um vídeo no Instagram que ironiza a celebração oficial.
En sua publicação, destacou com mordacidade: “Não é a mesma coisa ver todo o desfile do Dia do Trabalho do que ver desfilarem aqueles que passam trabalho todos os dias”, uma frase que se conecta diretamente com o mal-estar popular e a contradição entre o discurso triunfalista e a realidade cotidiana do cubano comum.
Outro dos momentos mais comentados foi proporcionado pelo perfil El Descoyuntado, que publicou um meme em que aparecem Sandro Castro e La Cintumbare participando do desfile. A imagem, carregada de sarcasmo, foi acompanhada da mensagem.

“Este 1º de Maio... que vão eles!”, em clara alusão aos privilégios de certas figuras próximas ao poder, que contrastam com o sacrifício exigido ao povo comum.
Enquanto as redes sociais explodem em zombarias e sarcasmos dirigidos à narrativa oficial, os meios de comunicação estatais e perfis alinhados ao regime mantêm intacta a retórica triunfalista.
O jornalista Yosmany Mayeta também aproveitou a oportunidade para criticar o governo. Em seu perfil no Facebook, ironizou sobre a suposta grandiosidade do desfile no leste do país com a mensagem: “Baracoa celebra com uma grande quantidade de trabalhadores, no 1º de Maio...”, acompanhada de imagens que mostravam uma marcha visivelmente escassa em participação.
As fotos evidenciavam um desfile famélico, no qual a propaganda e a realidade parecem marchar, como sempre, em direções opostas.
Outro que se juntou à chuva de críticas ao governo foi o influencer cubano Kenny Robert, conhecido como "El Más Viral", que compartilhou no Instagram um vídeo mostrando uma menina com um discurso "efusivo" convidando as pessoas a desfilarem no Primeiro de Maio.
"Esta menina está possuída por um antigo espírito revolucionário", ironizou o criador de conteúdos.
En suas coberturas, destaca uma suposta unidade do povo trabalhador, exemplificada este ano com um desfile encabeçado pelo governante Miguel Díaz-Canel e sua esposa, a também visível, mas não oficialmente reconhecida como primeira-dama, Lis Cuesta.
As imagens oficiais, marcadas pelo entusiasmo forçado e os cartazes de sempre, contrastam com o clima de desinteresse e resignação que predomina em boa parte da população.
Desde o perfil de Facebook da Empresa Elétrica de Holguín foi publicada uma mensagem repleta de euforia oficialista: “Carregados de iniciativas e cheios de entusiasmo, os trabalhadores da Empresa Elétrica de Holguín participam do desfile pelo Primeiro de Maio, Dia Internacional dos Trabalhadores”.
As imagens que acompanham a publicação mostram funcionários agitando cartazes como "História e Continuidade", em uma coreografia perfeitamente alinhada com o discurso do regime. O irônico é que precisamente a continuidade parece, de fato, garantida... pelo menos nos apagões, como bem apontaram vários usuários que não deixaram passar o duplo sentido de tal slogan.
Perguntas frequentes sobre memes e críticas ao desfile do Primeiro de Maio em Cuba
Por que foram gerados memes sobre o desfile do Primeiro de Maio em Cuba?
Os memes surgiram como uma forma de crítica e zombaria em relação ao desfile do Primeiro de Maio, destacando a comparação do povo cubano a um rebanho de ovelhas obedientes em meio à crise econômica que atravessa o país. Os usuários nas redes sociais utilizaram o humor para expressar seu descontentamento com a situação atual e a desconexão do regime com a realidade cotidiana dos cubanos.
O que simboliza o vídeo viral da dirigente sem dentes no contexto do Primeiro de Maio?
O vídeo da dirigente sem dentes convocando para o desfile se tornou viral porque representa um contraste entre o discurso oficial e a realidade. A imagem da dirigente com dentes ausentes tem sido interpretada como um símbolo das carências do sistema de saúde em Cuba, apesar da propaganda que apresenta o país como uma potência médica. Este vídeo gerou uma onda de reações nas redes sociais, ilustrando o desencanto com o regime.
Como a crise econômica em Cuba afetou a percepção das marchas do Primeiro de Maio?
A crise econômica aprofundou o descontentamento com as marchas, já que muitos cubanos veem esses eventos como uma fachada propagandística que não reflete suas necessidades reais. Em um contexto de escassez de alimentos, apagões e falta de recursos básicos, a insistência do regime em manter essas celebrações é percebida como uma desconexão das verdadeiras preocupações do povo, o que tem levado a expressões de ironia e rejeição nas redes sociais.
Por que o governo cubano insiste em realizar o desfile do Primeiro de Maio apesar das críticas?
O governo cubano insiste em realizar o desfile do Primeiro de Maio como uma tentativa de manter uma imagem de apoio popular e resistência diante das adversidades. Apesar da crise econômica e social, o regime utiliza essas marchas para projetar uma narrativa de unidade e compromisso com a revolução, frequentemente recorrendo a pressões laborais e institucionais para garantir a participação.
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